quinta-feira, 15 de março de 2012

Osteoporose e Doença Celíaca

Osteoporose e Doença Celíaca


Vários estudos demostram a presença de diminuição da massa óssea nos indivíduos com doença celíaca não tratada. Esse fato pode ser observado nas crianças, adolescentes ou adultos, que no momento do diagnóstico da doença celíaca realizaram o exame de densitometria óssea.

Os indivíduos com doença celíaca podem apresentar osteoporose como um sinal isolado, isto é, a única manifestação clínica da doença é a osteoporose, ou podem apresentar a osteoporose associada com outros sintomas. Assim, por exemplo, essas pessoas apresentam diarréia crônica, e também a osteoporose.

Vale a pena mencionar que um indivíduo com massa óssea diminuída, na maioria das vezes, não apresenta sintoma relacionado a essa alteração óssea. Assim, a pessoa que tem massa óssea alterada não tem conhecimento disto, a não ser que realize o exame de densitometria óssea.

Por que as pessoas com doença celíaca sem tratamento têm osteoporose? A perda óssea está relacionada com a má absorção de cálcio que ocorre devido a atrofia da mucosa do intestino. Como a vilosidade intestinal está atrofiada não é possível absorver o cálcio presente nos alimentos. A não absorção do cálcio acarreta aumento de um hormônio denominado paratormônio que acelera a perda óssea. Outro fator relacionado à baixa densidade óssea no celíaco não tratado é a má absorção de vitamina D. Dentre os demais fatores que contribuem para a baixa densidade óssea no celíaco sem tratamento estão: baixo consumo de cálcio, baixa atividade física, e efeitos da liberação de citocinas, que são substâncias liberadas pelo intestino alterado.

Com relação ao consumo alimentar de cálcio, vale a pena conferir na Tabela 1 quais são os principais alimentos que são fontes de cálcio. No estudo que realizamos no ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica da UNIFESP-EPM, observamos que a ingestão de cálcio dos celíacos é extremamente baixa. De acordo com as recomendações para uma dieta correta, considerando que 100% de cálcio corresponde à quantidade ideal de cálcio ingerido, verificamos que crianças e adolescentes com doença celíaca ingeriam apenas 15% das necessidades recomendadas de cálcio. Veja na Tabela 2 qual é a quantidade necessária diária de cálcio recomendada para a sua idade. Algumas dicas para aumentar o consumo de cálcio: café da manhã - iogurte ou leite batido com frutas, e queijo; almoço e jantar - colocar cubinhos de queijo na salada, adicionar leite nas sopas e fazer sobremesas com leite.

O que o celíaco deve fazer para que a massa óssea se normalize? O celíaco deve realizar a dieta sem glúten. Com isso a mucosa intestinal que estava atrofiada torna-se normal. Consequentemente, a mucosa intestinal normal é capaz de absorver adequadamente o cálcio presente na dieta e com isso o osso se recupera. É importante também adequar o consumo de cálcio e praticar atividade física.

É importante enfatizar que, quanto mais tardio o diagnóstico e tratamento de doença celíaca, maior o tempo de má absorção de cálcio e consequentemente maior a perda óssea. Deve-se lembrar que a mineralização óssea ocorre principalmente nos 2 primeiros anos de vida e na adolescência. Por essa razão, a adequada mineralização óssea na infância e adolescência é considerada um fator relevante na prevenção da osteoporose na vida adulta.

Qual a conseqüência do indivíduo com doença celíaca apresentar baixa densidade mineral óssea? A conseqüência é que o osso enfraquecido tem risco elevado de apresentar fraturas. As complicações decorrentes das fraturas podem causar perda da qualidade de vida e, até mesmo risco da própria vida.

Um trabalho recente demonstra que a pessoa com intolerância ao glúten tem maior chance de ter fratura óssea, e que na maioria das vezes a fratura ocorreu antes do diagnóstico e tratamento da doença celíaca ou nos indivíduos com doença celíaca que não obedeciam a dieta sem glúten. Esse estudo reafirma a necessidade de estabelecer o diagnóstico e tratamento precoce, assim como, de obedecer a orientação alimentar prescrita para prevenir a ocorrência de osteoporose no celíaco.



Prof. Dra. Vera Lucia Sdepanian
Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo
Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)
Consultora técnico-científica da ACELBRA-SP

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